08/07/2005 - Reportagem publicada no portal Ambiente Brasil
www.ambientebrasil.com.br
ENTREVISTA EXCLUSIVA: Lorisval Tenório de Vasconcelos
Mônica Pinto / AmbienteBrasil
O engenheiro agrônomo Lorisval Tenório de Vasconcelos vem trabalhando
desde 1994 em um exemplo lapidar de desenvolvimento sustentável. Ele passou a
cultivar mudas destinadas a produtores que precisassem reflorestar terras e,
com isso, está livrando da ameaça de extinção uma espécie cuja
madeira de lei foi considerada, por decreto imperial, a primeira do Brasil.
Trata-se do guanandi, que já espalha-se por propriedades de norte a sul do país,
com benefícios visíveis dos pontos de vista ambiental e comercial.
O trabalho de Vasconcelos já mereceu inclusive reportagem na revista Globo
Rural, sob o título “Poupança vegetal”. Sua divulgação é quase
toda feita, porém, por intermédio do site que criou -
www.reflorestar.com.br. Com argumentos técnicos e paixão, ele não
tem dificuldades em vender seu produto e assume já estar precisando reforçar
a equipe para o atendimento às demandas. “Quem produzir
madeira nobre vai ditar o preço e ter uma fila de consumidores nacionais e
internacionais na sua porta”, diz na entrevista exclusiva a AmbienteBrasil,
que o leitor confere a seguir.
AmbienteBrasil – Por que o senhor divulga que o plantio de guanandi
é “uma aposentadoria”?
Lorisval Tenório de Vasconcelos - De forma geral, é uma atividade
agroflorestal como outra qualquer. Pelas características de médio e longo
prazo da colheita do guanandi (receitas a partir do 10º ano com final no
18º ano) é que dizemos o projeto se assemelhar a uma poupança vegetal
ou uma aposentadoria - plantar agora para formar um pecúio para si
e seus descendentes. É preciso lembrar que o investimento de médio e longo
prazo tem a vantagem de "eliminar" competidores, isto é, se fosse
coisa que produzisse, por exemplo, em cinco anos, todo mundo faria e não
seria bom para ninguém.
AmbienteBrasil – Mas e para comercializar a madeira? É preciso ter
contatos, conhecer trâmites burocráticos, isso não desestimula
potenciais plantadores?
Vasconcelos - É tão sabida a escassez de madeira no Brasil e
no mundo que comentar é chover no molhado. No Brasil, matas plantadas de
eucalipto e pinus totalizam 97% (celulose e papel). Só 3% de outras espécies
são para uso nobre (movelaria fina etc.). Só no Brasil existem 30.000
empresas ligadas à madeira precisando importar por causa da escassez.
Nos outros países ocorre a mesma escassez, agravada pela crescente consciência
ambiental de não mais comprar madeiras nativas da África, Ásia etc.,
além do que, na Europa e América do Norte, por questões de climas
frios, leva-se mais de 50 anos para formar uma boa tora de madeira. A extração
de madeiras da Amazônia legal tende a diminuir pela crescente escassez e
crescente fiscalização. Tudo isso liga-se ainda à consciência
cada vez maior dos problemas de aquecimento global do planeta (efeito estufa)
e derretimento das geleiras refletidos nos "tsunamis".
É por isso que, enquanto se paga em torno de R$ 30 o metro cúbico do
eucalipto e pinus (celulose e papel), se paga hoje pela madeira nobre
denominada teca (planta exótica que só se desenvolve bem no Mato Grosso), similar
ao guanandi, em torno de R$ 5.000,00 o m3. O guanandi, nativo do Brasil, vai
bem no país todo e leva outros nomes conforme a região de ocorrência,
por exemplo Jacareúba, na Amazônia. É uma madeira em extinção no
Brasil, mas largamente comercializada no mundo, principalmente na América
Central, onde é plantada e extraída da natureza já que lá as leis
ambientais não proíbem.
Resumindo tudo: quem produzir madeira nobre vai ditar o preço e ter uma fila
de consumidores nacionais e internacionais na sua porta. Qualquer pesquisa de
mercado detecta com clareza essa situação.
AmbienteBrasil – O mercado é receptivo ao guanandi? Afinal, pouca
gente já ouviu falar dessa madeira.
Vasconcelos -Essas aberrações, inexplicavelmente, acontecem
no Brasil. Nativa no Brasil há milhares de anos, o imperador do Brasil, já
em 1835, baixou decreto imperial tornando o guanandi a primeira
madeira de lei do Brasil. Assim como a Teca hoje, muito requisitada porque é
imputrescível dentro da água (uso na indústria naval, iates, etc.), o
guanandi também era usado na indústria naval da época, igualmente pela
característica de não apodrecer na água.
O fato de ser desconhecida e em extinção, frente a um mercado de alta
demanda, traz vantagens econômicas. “Os primeiros a plantar vão
beber água limpa”, isto é, vão encontrar um mercado “livre”, ou
seja , sem competição . O comerciante comum talvez não a conheça
pelo nome guanandi, e também pelo fato de ser espécie em extinção, não
estar diariamente ofertada no mercado de hoje. Os especialistas nacionais e
internacionais, talvez por outro nome (jacareúba, na Amazônia) a conheçam,
haja vista ser madeira largamente estudada no Brasil e no mundo pela pesquisa.
Vale aqui ressaltar afirmação da Embrapa: “Madeira ainda pouco
utilizada no Brasil em contraste com a sua popularidade em outros países da
América do Sul e do Caribe, podendo substituir o Mogno e Cedro estéticamente”
(Livro: Espécies Arbóreas Brasileiras, fls. 493, EMBRAPA - informação
tecnológica). Na América Central, por exemplo, o guanandi leva o nome
popular de “Palo Maria”, “Cedro Maria”, “Santa Maria” ou
“Maria”.
AmbienteBrasil – Qual é o investimento por hectare e em quanto
tempo se pode ter retorno dele?
Vasconcelos - Há um módulo para cinco hectares, apresentado em
planilha e resumido em gráfico no nosso site – www.reflorestar.com.br. Mas,
transformando para um hectare: despesas de R$ 8.800,00 / hectare
dispendidos ao longo dos 18,5 anos rendem uma receita Bruta de R$
1.280.000,00 / hectare, recebidos ao longo dos mesmos 18,5 anos.
AmbienteBrasil – O senhor tem conseguido fazer negócios com as
mudas das árvores em grande escala?
Vasconcelos - Só no ano de 2004 fomentamos e orientamos cerca de 200
plantios desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Há uma relação
nominal de principais clientes no site. A perspectiva para 2005 é
que esse número pelo menos se repita e, provavelmente, se amplie.
Temos todo o tipo de clientes: aqueles que iniciam com “um pouco para
experimentar ou aprender”, outros que já iniciam com grandes quantidades ,
porém com a assessoria especializada da Vasconcelos Florestal. Assim é que
temos clientes instalando de uma só vez 150 ha, 400 ha e 1000 ha.
AmbienteBrasil – O plantio da espécie cai bem em que tipos de solo?
Vasconcelos - Por ser planta nativa do Brasil, rústica e de larga
disseminação e ocorrência em todos os Estados Brasileiros,
podemos dizer que vai bem em qualquer solo, inclusive em solos alagados. É
lógico que, nos solos mais férteis, praticamente não precisa adubação,
enquanto nos solos pobres em fertilidade é necessária a correção
nutricional, haja vista que não se pretende qualquer porte
de planta e, sim, uma tora robusta cujos diâmetro e qualidade atendam a indústria
moveleira, principalmente. Temos como limitação os solos situados em
regiões com temperaturas abaixo de 3 graus negativos, o que ocorre em
algumas regiões dos Estados do Sul do Brasil.
AmbienteBrasil - Por que o guanandi caiu no ostracismo, ao contrário
do pau-brasil, por exemplo, que figura ao menos nos livros de História?
Vasconcelos - O pau-brasil teve a sua história em função
do seu uso para tinturas. Foi explorado predatoriamente até a sua quase extinção pelos
exploradores europeus com a finalidade de tintura. Os livros de
História do Brasil ressaltam essa usurpação de riqueza. Devido a ter
originado o nome “Brasil” e à usurpação internacional,
essas histórias foram levadas aos livros didáticos do ensino primário, onde
todos nós tivemos contato.
O guanandi, importante na indústria naval do Brasil, também foi explorado
predatóriamente pelos brasileiros até a sua quase extinção. Pela sua
importância como madeira de uso naval, mereceu o decreto imperial em 1835,
como primeira madeira de lei do país. Tal fato está registrado na literatura
científica.
Entretanto, saindo da história para a vida prática, economicamente falando,
enquanto uma planta fornece tinta e a outra, madeira, o resgate que a
Vasconcelos Florestal faz do guanandi, com amplo reconhecimento da agropecuária
e investidores de todos os cantos do Brasil - porque resgata uma planta nativa
de madeira nobre equivalente ao mogno -, a primeira (pau-brasil)
hoje não teria o reconhecimento do guanandi, porque sua tinta se
substitui pelos inúmeros corantes agora existentes.
AmbienteBrasil – Em termos de reflorestamentos, o guanandi se
coaduna com as oportunidades de negócios abertas pelo Protocolo de Kyoto?
Vasconcelos - O guanandi, por ser nativo do Brasil, tem mais a ver
com a nossa fauna e flora do que o eucalipto e pinus que são plantas exóticas
(originados de outros países). Por isso mesmo, acertadamente, mais aceita
pelos órgãos ambientais nos projetos de reflorestamento e apoio
financeiro dos organismos oficiais, nacionais e internacionais ( Protocolo de
Kyoto).
De futuro, realmente os objetivos do Protocolo de Kyoto são “a bola
da vez”. Nessa esteira, o guanandi se oferece como excelente opção
de reflorestamento para, entre outros, controlar o efeito estufa pela absorção
do CO2 (a planta rebrota após o corte), como para excelente retorno econômico
aos agropecuaristas e entrada de divisas para o país.
Embora como nos disseram a Embrapa e a Esalq USP (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo): outras
plantas nativas existem que são importantes para os mesmos objetivos do
guanandi, mas, infelizmente, não foram estudadas por ninguém
quanto às tecnologias de plantio, condução e desenvolvimento a
nível de campo. Nesse sentido, reconhecem na Vasconcelos Florestal o mérito
do pioneirismo no estudo e conhecimento prático de campo dessa importante espécie.
A exclusividade de domínio da técnica dessa espécie vem nos gerando alta
demanda, a ponto do sufocamento, o que nos tem obrigado a ampliar nossa
estrutura de atendimento. Ficamos honrados com o reconhecimento dos
agropecuaristas brasileiros, colegas cientistas, instituições
governamentais e empresários diversos. Também, através do projeto guanandi,
estamos contribuindo com a economia do Brasil e dos agropecuaristas.
É que os dois segmentos de alta demanda que vêm por ai, de extrema
escassez e sem possibilidade de competição por oferta, são os
segmentos no campo de água e no campo de madeiras.
O projeto guanandi ataca o campo da produção de madeiras, com alcance
nos objetivos ambientais do Protocolo de Kyoto, no momento em que,
diferentemente de todos as atividades agropecuárias, sempre alternando altos
e baixos, oferece um investimento seguro, rentável e exclusivo.
AmbienteBrasil – Do ponto de vista da biodiversidade, o senhor tem
conhecimento de espécies animais e vegetais associadas ao guanandi?
Vasconcelos - Por ser planta nativa que, além da madeira nobre,
fornece frutos importantes para a fauna (principalmente avifauna, fauna aquática,
exemplo: morcegos, peixes e pássaros), de longe é mais interessante
ambientalmente que as espécies exóticas teca, eucalipto e pinus. Os plantios
em larga escala só farão multiplicar esses benefícios.